Chegámos à maternidade às 8h em ponto, tendo entrado para a sala de observação/avaliação às 9h45. Fizeram-me um toque e estava com dois dedos de dilatação. Clister, vestir a "farda" do hospital e fui para a sala de dilatação. O papá não pôde entrar... Fui a última grávida a ter a sorte de ter um pouco de privacidade. Todas as que foram chegando depois ficaram no corredor... 17 partos num dia é obra naquela maternidade!
Estava tudo a correr bem, contracções regulares, oxitocina a correr... Aos 3 dedos de dilatação a minha ginecologista rebentou-me as membranas e 10 minutos depois começou a aventura pelo universo da dor... Comecei a sentir contracções que me provocavam dores lancinantes... ao ponto de já nem me sentir ali fisicamente... acho que andava a pairar e prestes a perder os sentidos. Perdi totalmente o controlo sobre o meu corpo e as dores foram tomando conta de mim... Num momento de lucidez, não hesitei um segundo em pedir a epidural, que me foi aplicada com sucesso e à primeira aos 4 dedos de dilatação. Continuei a sentir as contracções, mas com menos dor e durante menos tempo.
Pensava eu que estava tudo bem encaminhado quando me vejo subitamente rodeada de enfermeiras, cada uma com um ar mais preocupado que a outra, às voltas com o CTG e a tentar colocar o cinto de forma a captar o coração do João... que não se estava a ouvir... quando finalmente conseguiram notei que as caras de preocupação se mantiveram e uma delas foi a correr chamar a minha médica... Eu bem perguntava o que se estava a passar... mas não me diziam nada... A médica veio logo e pediu que me algaliassem e pusessem imediatamente a oxigénio... pediu também que parassem com a oxitocina. O João estava em sofrimento e a receber pouco oxigénio. Durante alguns instantes percebi que ponderavam a hipótese de me fazerem cesariana ou então aguardar mais um pouco, uma vez que o ritmo do coraçãozinho do meu bebé tinha normalizado entretanto. A opção foi aguardar, sempre debaixo de um controlo rigoroso por parte das enfermeiras.
Como imaginam estava desesperada... preocupada e o papá sem saber de nada porque eu não tinha o telemóvel comigo...
Passei o resto do tempo atenta ao coração do João... era a única coisa que me importava ouvir naquele momento... a angústia apoderava-se de mim a cada contracção porque deixava de o ouvir ou então ouvia-o como se estivesse muito longe, dentro de um poço fundo... mas depois voltava ao normal.
A partir daqui a situação foi evoluindo sem mais percalços até que comecei a sentir as "dores de parto", sentia uma vontade de fazer cocó muito dolorosa... uma enfermeira fez-me o toque e... dilatação completa, o João queria nascer! Mandou-me começar a fazer força a cada contração e chamou a outra médica que estava de serviço para me avaliar. Aqui começou a pior parte... que me levou ao descontrolo e ao desespero total. A dita médica fez-me o toque e disse: "Ela que espere mais 40 minutos e pare de fazer força porque vamos agora fazer uma cesariana. Ela que aguente que ainda está muito atrasado." Ora... eu sei que a médica é ela, mas a minha intuição e a cara da enfermeira fez-me ter a certeza de que o João não queria esperar tanto e que ia ser um risco contrariar o que o meu corpo me dizia a cada contracção... para fazer força... Tinha a certeza que o facto de contrariar o meu corpo estava a fazer sofrer o nosso filhote... Confesso que ignorei a médica e continuei a fazer força moderadamente... claro que estava mais que preocupada e revoltada, principalmente por saber que a minha ginecologista não sabia o que se estava a passar.
Quando finalmente acabaram a tal cesariana, a mesma médica foi observar-me e voltou a dizer que o João estava muito subido e que estava tudo muito atrasado. Passei-me e comecei a gritar... de revolta e de dores também... Tive vontade de a esganar! Poucos minutos depois veio a minha médica e, após fazer-me o toque, mandou que me levassem IMEDIATAMENTE para a sala de expulsão porque o João estava a nascer! Enquanto me levavam ela pediu-me o número do George e ligou-lhe a dizer: "Venha já para cima, ou já vem tarde!"
Eu só fazia era chorar... e comecei a perder o controlo sobre a respiração... hiperventilei e nada nem ninguém me estava a conseguir acalmar... Quando o papá do João chegou fiquei ainda mais emocionada... mas sabia que ele me ia tranquilizar... juntamente com a minha médica, que foi incansável! Consegui finalmente trazer a mim o fôlego necessário para o João poder nascer... E assim foi... 4 ou 5 puxadelas e uma ajuda de uma enfermeira a carregar na barriga e o João veio ao mundo... o período expulsivo demorou apenas 8 minutos! A médica pô-lo em cima de mim e tudo parou naquele momento só nosso... Não chorou, soltou apenas um gemido e foi-me retirado para ser visto pela pediatra... Eu só perguntava se ele estava bem ao que me iam respondendo que sim... com o papá sempre muito atento. Chorámos os dois, agora de felicidade! Uma felicidade que ambos desconhecíamos e que não sabíamos ser possível de sentir...
E assim nasceu o João: às 39 semanas e um dia de gestação, de parto eutócico com epidural, às 17h55, do dia 15 de Abril de 2008, com 3,150 kg e 48 cm, com um APGAR de 5 ao 1º minuto, de 8 ao 5º minuto. O trabalho de parto teve a duração de 7 horas que culminaram com o momento mais intenso e feliz da minha vida.
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Nota: Os pontos! Esqueci-me da episiotomia. A médica teve que me fazer um pequeno corte que me deu direito a apenas 3 pontos! Já ouvi falar em trinta e tal, portanto, acho que até tive sorte! Três míseros pontinhos que me dificultaram a vida (e muito) e me doeram como tudo até ontem... quando mos tiraram. Hoje ainda tenho algumas dores, mas já me consigo sentar.
Nota 2: A maternidade das Caldas permite a presença dos papás (ou outro acompanhante) ao longo de todo o trabalho de parto... quando há condições para tal. Estão preparados para ter cinco mamãs em quartos individuais... Ora, com 17 partos foi impossível permitir a presença de papás porque havia muitas mamãs no corredor, sem privacidade... Assim, não entrou nenhum papá na ala da dilatação, só podiam assistir ao período expulsivo.